A verdade "nua e crua" sobre a Vostu: de maior empresa de games sociais do Brasil, à um fracasso total chegando no ponto máximo da falência.
![]() |
Fundadores da Vostu |

Nos anos de 2010 e 2011 a Vostu parecia voar, investidores lucravam, fundadores lucravam e os brasileiros se aprofundavam cada vez mais na febre dos jogos Orkut. Qual brasileiro que teve conta na antiga rede social que não ficou horas cuidando da "sua fazendinha" ou do "seu café" e sua MegaCidade no MegaCity? Parecia ser o começo de uma nova era dos jogos e a Vostu estava disposta a seguir crescendo e entretendo. Ampliou escritórios, no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos. Aumentou sua equipe e muito, em pouco tempo a Vostu saltará de 100 funcionários para mais de 500 colaboradores, segundo relatos de funcionários, chegavam a ser contratados cerca de "10 ou 20" funcionários por dia e os problemas começaram.
Em Julho a Vostu adquiriu a empresa MP Games e esta compra se tornou protagonista no final da empresa que será comentada ao decorrer deste post. Como resultado a empresa se arriscou no mercado mobile e lançou Meow e Elemental em dispositivos móveis.

Os desdobramentos do processo chegaram a assustar, e a justiça determinou a retirada dos jogos Pet Mania, MegaCity, Vostu Poker e Café Mania cuja liminar veio a ser derrubada posteriormente e o processo se encerrou em Dezembro com um acordo de alteração dos jogos e pagamento de uma quantia não revelada até hoje. (estima-se que tenha sido de 15 milhões). Em Janeiro de 2012 chegaram os resultados: MegaCity e Café Mania foram completamente reformulados. Já Pet Mania e Vostu Poker, juntamente com o Joga Craque foram retirados do ar, a época segundo a Vostu estes jogos já não faziam sucesso e ficaria "mais caro alterá-lo do que encerrá-lo". Tudo isso se culminou com o lançamento dos sucessos estrondosos como Gol Mania, Candy Dash e World Mysteries.
E depois do processo vieram outros problemas: A Vostu sob Daniel Kafie percebeu que gastará demais, gastou-se o que não podia e pior ainda: o que não tinha. A partir daí somou-se ainda mais dias de tensão, gritarias nas salas superiores, brigas entre os investidores, tensões para todos os lados, crescimento do Facebook no Brasil, fuga de usuários no Orkut e uma surpresa inédita marcaram o início conturbado de 2012 na Vostu: A "quebra" do carro chefe da companhia, a Mini Fazenda. O jogo de maior sucesso da Vostu, pela primeira vez teve mais gastos do que lucros, perdeu usuários e passou a ser um problema para a empresa. Acenderam-se todos os alertas vermelhos e os problemas começaram. Perdidos, investidores brigaram, novos chegaram, vários saíram.
Como desdobramento da crise que começava assolar a maior empresa de jogos sociais do Brasil, e brigas internas de investidores a Vostu anunciou uma super reestruturação com o objetivo de focar suas atividades em Buenos Aires visando reduzir gastos. Na época, a empresa MENTIU DESCARADAMENTE ao dizer que não fechou seus estúdios no Brasil: Fechou. Mentiu, ao dizer que não houve demissão em massa, pois houve demissões. O quadro de funcionários da empresa caiu de cerca de 700 funcionários para 250.
Neste período, Daniel kafie, principal fundador deixou a companhia e foi focar no desenvolvimento de novos negócios longe da Vostu. Quem chegava para ser CEO na Vostu era Mathias Recchia, conhecido e chamado pelos funcionários como o "CEO Hollywood" por gostar de estar na mídia sempre.


Sob seu comando novamente, destituiu Mathias e Andrés Bernasconi (Cientista chefe na ocasião). Demitiu cerca de 120 funcionários. Mudou de escritório para um menor e que tivesse menos custos. Reduziu tudo o que podia reduzir. Seria uma versão 2.0 do "Daniel gastão" que a Vostu conheceu em 2010/2011?
Começou-se então, uma nova operação na Vostu: a de salvá-la, e o foco para isso parecia bem claro para qualquer um que analisasse a situação da empresa: Obter recursos explorando ao máximo os seus clássicos jogos (Mini Fazenda, Café Mania e MegaCity) sem qualquer acréscimo de gastos a empresa, para reverter o lucro na produção de novos jogos. Mas desta vez, a Vostu sabia que não podia falhar. Decidiu apostar nos jogos mobile de alta qualidade e 3D, mas sem grandes gastos também. Tudo estava muito limitado. Funcionários viram seu trabalho aumentar daí em diante, receber menos, exercer diversas funções, trabalhar para o máximo de jogos possíveis. Alçou Fernando Piccolo a posição de CTO (ex MP Games) , contou com a ajuda financeira de Florentino Arce (hoje, chefe de finanças na OLX) e ainda com Angel Mazzarelo para cientista chefe. Ambos todos fizeram seus investimentos.

Com o passar de alguns meses e visto que o jogo teria enormes dificuldades para se deslanchar com a Vostu que além de tudo tinha enorme rejeição do público brasileiro que já havia jogado seus games no passado, eis que de forma tardia, decidiu abrir mão e fazer uma parceria com a Halbrick. Os embrólios desta parceria são desconhecidos. O que se soube e se sabe é que a Vostu ficou responsável pela produção, manutenção e suporte do jogo. Enquanto que a Halbrick divulgava e publicava o game. Foi então que Top Farm alçou, e começou apresentar resultados expressivos, mas não suficientes para salvar a Vostu.
A esta altura, Daniel Kafie já havia percebido o óbvio: o poder da Vostu, o dinheiro e a chance de voltar ao auge...já tinha ido embora e ele também. O fato é que segundo alguns funcionários "Daniel já não governava a empresa", quase não estava presente, estaria com o foco e cabeças nos pés lá fora.

Em Julho, a Tiger Global já anunciava que havia feito um mal investimento na Vostu, e que a empresa estaria falida. Tal período, coincidiu com a saída de Florentino Arce dos rumos da empresa.
Funcionários questionavam a si mesmo qual era a manobra que era usava para manter a Vostu, pois dos jogos, esta rentabilidade já não vinha mais.
Foi quando em Agosto de 2015 foi dada a largada da reta final. Já sem recursos até mesmo para acertar dívidas trabalhistas e a véspera do lançamento de Dragon Ninjas, Daniel Kafie anunciou a todos que (finalmente!) já não dava mais. A Vostu estava quebrada, falida, zerada, sem dinheiro e a oficina consequentemente, fechada. Demitiu-se todos os funcionários, fechou-se todos os produtos, mas um saldo precisava ser acertado: Um grupo de ex funcionários ligados a diretoria da empresa e que não aceitaram o que ocorrerá tentaram negociar de forma independente os jogos da Vostu para que eles continuassem o mantendo em uma nova empresa. Daniel kafie negou, ele já tinha outros planos.
De mãos atadas e sem sequer receber por seus direitos trabalhistas e outros saldos, uma negociação inusitada aconteceu entre Fernando Piccolo, Angel Mazzarelo, Fernando Herenú, Diego Cánepa e Ignacio Alles (ambos ex colaboradores de alto escalão da Vostu, alguns até mesmo com investimentos). Negociaram a divisão mobile da Vostu que contava com Candy Dash, Elemental, Top Farm e o já quase finalizado Dragon Ninjas em troca de seus acertos trabalhistas. Tentaram obter também de Daniel Kafie, os códigos e licenças dos jogos Mini Fazenda, Café Mania e MegaCity, cujo ainda poderiam gerar alguma rentabilidade. Ele negou e não chegou a um acordo satisfatório.
Juntos este grupo fundou uma nova empresa, separadamente e sem vínculos com a antiga Vostu, intitulada de MP Force. O nome faz referência a companhia antiga nem que eram vinculados e que foi comprada pela Vostu em 2011. Seguem ativos até hoje, investindo como podem em seus jogos. Lançaram o Dragon Ninjas, e aprimoram-o até hoje.
Cheio de dívidas e problemas com investidores, Daniel teve de tomar uma atitude: Decidiu manter uma pessoa a frente dos jogos Vostu, para administrar os servidores e alimentar os jogos na medida em que pudera. Sua intenção era permitir que os três carros chefes (Mini fazenda, Café Mania e MegaCity) da Vostu permanecessem no ar gerando lucros para que repor todas as perdas que teve. Manteve por quase um ano, quando Junho percebera que já não era mais rentável e que teria de pagar servidores por lucros que não viriam mais. Foi quando sem dó, num gesto frio calculou corretamente os passos: Destruiu as formas de comunicação com a Vostu (suporte, site, blog, fanpage, tudo que podia) e depois de alguns dias anunciou no MegaCity e no Café Mania (jogos menos expressivos em relação a Mini Fazenda, por exemplo) que tudo se acabaria em 15 dias. A Mini Fazenda, tradicionalmente conhecida por ter fãs apaixonados, resolveu não publicar o anúncio. Sua intenção era evitar a comoção por partes dos fãs.
Mas Daniel já sabia que não conseguiria manter os jogos por 15 dias, apenas estimou. A esta altura tudo já vinha sendo realizado: Desligamento de servidores, entrega de licenças e por fim, o desligamento dos datacenters. Já era, tudo estava acabado e estava na memória. Sem chances de retorno, aos poucos a memória de cada um dos jogos vai se extinguindo e sumindo da web. Em uma questão de tempo, ninguém mais saberá o que é Mini fazenda, o que foi o Café Mania e muito menos, como eram as MegaCidades do MegaCity.
Um final melancólico e triste para aquela, que foi um dia a maior empresa de games sociais da América Latina.
Observação: Entramos em contato com Daniel Kafie (ex presidente da Vostu), e o mesmo manisfestou interesse em responder alguns questionamentos apontados, mas até o fechamento desta postagem ele não enviou seus autos.