A falência da Vostu- A verdade sobre tudo que aconteceu com a empresa nos últimos anos

A verdade "nua e crua" sobre a Vostu: de maior empresa de games sociais do Brasil, à um fracasso total chegando no ponto máximo da falência. 

Post produzido em parceria com o portal  GeekNess e utilizado posteriormente para trabalhos acadêmicos. *



Fundadores da Vostu
Lançada em Junho de 2007 pelos estudantes de Harvard, Daniel Kafie, Mario Schlosser e Josh Kushner a Vostu tinha inicialmente a intenção de se tornar uma rede social. Mas os planos da empresa se alteraram rapidamente quando identificaram que um negócio de jogos online para o Orkut focado na América Latina poderia ser mais sucesso. E de fato foi. 
A Vostu chegou ao Orkut com o Joga Craque, jogo de simulação de gerenciamento de um time de futebol. O jogo fez sucesso, foi bem aceito e bem jogado pelo público. Mas isso não era nada do que estava por vim à frente. Logo depois, com novos investimentos, vieram novos jogos. Primeiro, o Vostu Poker, depois Mini Fazenda (que veio a ser seu carro chefe posteriormente), em seguida o Pet Mania, depois Café Mania e em seguida MegaCity. Foram produtos suficientes para que a Vostu se tornasse um negócio atrativo, lucrativo, produtivo e ser intitulada de "a rainha dos jogos do Orkut", ou mesmo como a "dona dos jogos" como cravou a Revista Veja em Janeiro de 2011. A época, novos investidores se arriscaram a apostar suas fichas na empresa, como o caso da hoje CEO da Kickante,  Tahiana D’Egmont que chegou para ser a Chief Marketing Officer da Vostu, mas ela não durou muito. Saiu da Vostu em Junho de 2011, cujo motivos são desconhecidos. 

Nos anos de 2010 e 2011 a Vostu parecia voar, investidores lucravam, fundadores lucravam e os brasileiros se aprofundavam cada vez mais na febre dos jogos Orkut. Qual brasileiro que teve conta na antiga rede social que não ficou horas cuidando da "sua fazendinha" ou do "seu café" e sua MegaCidade no MegaCity? Parecia ser o começo de uma nova era dos jogos e a Vostu estava disposta a seguir crescendo e entretendo. Ampliou escritórios, no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos. Aumentou sua equipe e muito, em pouco tempo a Vostu saltará de 100 funcionários para mais de 500 colaboradores, segundo relatos de funcionários, chegavam a ser contratados cerca de "10 ou 20" funcionários por dia e os problemas começaram. 

Em Julho a Vostu adquiriu a empresa MP Games e esta compra se tornou protagonista no final da empresa que será comentada ao decorrer deste post. Como resultado a empresa se arriscou no mercado mobile e lançou Meow e Elemental em dispositivos móveis. 

Tamanho sucesso da Vostu, chamou a atenção de empresa globais como a Zynga. Mega-desenvolvedora de jogos para o Facebook que ao perceber a oportunidade de abocanhar mais usuários e chegar na América Latina, tentou comprar a Vostu. Tal tentativa não vingou. Meses depois, veio o resultado da Vostu não ter se rendido aos investimentos da Zynga: A estadunidense anunciou um processo contra a Vostu por plágio. 
Os desdobramentos do processo chegaram a assustar, e a justiça determinou a retirada dos jogos Pet Mania, MegaCity, Vostu Poker e Café Mania cuja liminar veio a ser derrubada posteriormente e o processo se encerrou em Dezembro com um acordo de alteração dos jogos e pagamento de uma quantia não revelada até hoje. (estima-se que tenha sido de 15 milhões). Em Janeiro de 2012 chegaram os resultados: MegaCity e Café Mania foram completamente reformulados. Já Pet Mania e Vostu Poker, juntamente com o Joga Craque foram retirados do ar, a época segundo a Vostu estes jogos já não faziam sucesso e ficaria "mais caro alterá-lo do que encerrá-lo". Tudo isso se culminou com o lançamento dos sucessos estrondosos como Gol Mania, Candy Dash e World Mysteries. 

E depois do processo vieram outros problemas: A Vostu sob Daniel Kafie percebeu que gastará demais, gastou-se o que não podia e pior ainda: o que não tinha. A partir daí somou-se ainda mais dias de tensão, gritarias nas salas superiores, brigas entre os investidores, tensões para todos os lados, crescimento do Facebook no Brasil, fuga de usuários no Orkut e uma surpresa inédita marcaram o início conturbado de 2012 na Vostu: A "quebra" do carro chefe da companhia, a Mini Fazenda. O jogo de maior sucesso da Vostu, pela primeira vez teve mais gastos do que lucros, perdeu usuários e passou a ser um problema para a empresa. Acenderam-se todos os alertas vermelhos e os problemas começaram. Perdidos, investidores brigaram, novos chegaram, vários saíram. 

Como desdobramento da crise que começava assolar a maior empresa de jogos sociais do Brasil, e brigas internas de investidores a Vostu anunciou uma super reestruturação com o objetivo de focar suas atividades em Buenos Aires visando reduzir gastos. Na época, a empresa MENTIU DESCARADAMENTE ao dizer que não fechou seus estúdios no Brasil: Fechou. Mentiu, ao dizer que não houve demissão em massa, pois houve demissões. O quadro de funcionários da empresa caiu de cerca de 700 funcionários para 250. 

Neste período, Daniel kafie, principal fundador deixou a companhia e foi focar no desenvolvimento de novos negócios longe da Vostu. Quem chegava para ser CEO na Vostu era Mathias Recchia, conhecido e chamado pelos funcionários como o "CEO Hollywood" por gostar de estar na mídia sempre. 

Mathias foi um fracasso, perdeu o foco dos negócios, brigou com funcionários, reduziu gastos que não poderia reduzir, reduziu gradativamente as equipes dos jogos, gastou com lançamentos que não deveria gastar, trouxe novos investidores que sequer chegaram a ver um retorno. Lançou na sua gestão diversos jogos novos: Shaking Vegas, Flying Kingdoms, Riddle Pic, Um Milhão na Mesa, Word Show, Find & Climb. 
Quando percebera que a situação ficava cada vez mais insustentável, decidiu ousar e colocar a Vostu a venda. Procurou diversas produtoras ao redor do mundo interessadas em comprar a Vostu e fez articulações "ás sombras com a Zynga" e quando a negociação parecia prosperar, eis uma surpresa: Daniel Kafie havia feito articulações internas, comprou ações importantes e estratégicas da Vostu que o permitiram retornar ao comando da empresa.

Sob seu comando novamente, destituiu Mathias e Andrés Bernasconi (Cientista chefe na ocasião). Demitiu cerca de 120 funcionários. Mudou de escritório para um menor e que tivesse menos custos. Reduziu tudo o que podia reduzir. Seria uma versão 2.0 do "Daniel gastão" que a Vostu conheceu em 2010/2011? 

Começou-se então, uma nova operação na Vostu: a de salvá-la, e o foco para isso parecia bem claro para qualquer um que analisasse a situação da empresa: Obter recursos explorando ao máximo os seus clássicos jogos (Mini Fazenda, Café Mania e MegaCity) sem qualquer acréscimo de gastos a empresa, para reverter o lucro na produção de novos jogos. Mas desta vez, a Vostu sabia que não podia falhar. Decidiu apostar nos jogos mobile de alta qualidade e 3D, mas sem grandes gastos também. Tudo estava muito limitado. Funcionários viram seu trabalho aumentar daí em diante, receber menos, exercer diversas funções, trabalhar para o máximo de jogos possíveis. Alçou Fernando Piccolo a posição de CTO (ex MP Games) , contou com a ajuda financeira de Florentino Arce (hoje, chefe de finanças na OLX) e ainda com Angel Mazzarelo para cientista chefe. Ambos todos fizeram seus investimentos. 

Após alguns meses, o primeiro resultado: Vostu lança "Mini Fazenda 3D para smartphones. Tratava-se de uma tentativa de repetir a fórmula que levou a Vostu ao sucesso em 2010 com o lançamento da Mini Fazenda no Orkut, mas desta vez, a tentativa seria nos smartphones. A ideia poderia ser inovadora, se já não fosse atrasada. A febre das fazendas já estava sendo explorada por outras empresas nos dispositivos mobiles, talvez Top Farm até teria mais qualidade que estes, porém o dinheiro e o atraso não permitiram que todos chegassem até ele. 

Com o passar de alguns meses e visto que o jogo teria enormes dificuldades para se deslanchar com a Vostu que além de tudo tinha enorme rejeição do público brasileiro que já havia jogado seus games no passado, eis que de forma tardia, decidiu abrir mão e fazer uma parceria com a Halbrick. Os embrólios desta parceria são desconhecidos. O que se soube e se sabe é que a Vostu ficou responsável pela produção, manutenção e suporte do jogo. Enquanto que a Halbrick divulgava e publicava o game. Foi então que Top Farm alçou, e começou apresentar resultados expressivos, mas não suficientes para salvar a Vostu. 

A esta altura, Daniel Kafie já havia percebido o óbvio: o poder da Vostu, o dinheiro e a chance de voltar ao auge...já tinha ido embora e ele também. O fato é que segundo alguns funcionários "Daniel já não governava a empresa", quase não estava presente, estaria com o foco e cabeças nos pés lá fora. 

Mesmo assim tentou manter, e tocou a Vostu por alguns meses, cada vez reduzindo mais custos, cada vez mais falida, as dificuldades da empresa chegaram a ser tantas que um jogo que vinha sendo produzido pela Vostu, considerada " a última esperança e o último suspiro" atrasou por incríveis 1 ano e meio na produção, devido a tantas limitações e problemas financeiros. O game trataria temática ninja e salvo um fator primordial a ser citado adiante, o público poderia ter nem chegado a conhecer o produto. 

Em Julho, a Tiger Global já anunciava que havia feito um mal investimento na Vostu, e que a empresa estaria falida. Tal período, coincidiu com a saída de Florentino Arce dos rumos da empresa. 
 Funcionários questionavam a si mesmo qual era a manobra que era usava para manter a Vostu, pois dos jogos, esta rentabilidade já não vinha mais. 

Foi quando em Agosto de 2015 foi dada a largada da reta final. Já sem recursos até mesmo para acertar dívidas trabalhistas e a véspera do lançamento de Dragon Ninjas, Daniel Kafie anunciou a todos que (finalmente!) já não dava mais. A Vostu estava quebrada, falida, zerada, sem dinheiro e a oficina consequentemente, fechada. Demitiu-se todos os funcionários, fechou-se todos os produtos, mas um saldo precisava ser acertado: Um grupo de ex funcionários ligados a diretoria da empresa e que não aceitaram o que ocorrerá tentaram negociar de forma independente os jogos da Vostu para que eles continuassem o mantendo em uma nova empresa. Daniel kafie negou, ele já tinha outros planos. 

De mãos atadas e sem sequer receber por seus direitos trabalhistas e outros saldos, uma negociação inusitada aconteceu entre Fernando Piccolo, Angel Mazzarelo, Fernando Herenú, Diego Cánepa e Ignacio Alles (ambos ex colaboradores de alto escalão da Vostu,  alguns até mesmo com investimentos). Negociaram a divisão mobile da Vostu que contava com Candy Dash, Elemental, Top Farm e o já quase finalizado Dragon Ninjas em troca de seus acertos trabalhistas. Tentaram obter também de Daniel Kafie, os códigos e licenças dos jogos Mini Fazenda, Café Mania e MegaCity, cujo ainda poderiam gerar alguma rentabilidade. Ele negou e não chegou a um acordo satisfatório.

Juntos este grupo fundou uma nova empresa, separadamente e sem vínculos com a antiga Vostu, intitulada de MP Force. O nome faz referência a companhia antiga nem que eram vinculados e que foi comprada pela Vostu em 2011. Seguem ativos até hoje, investindo como podem em seus jogos. Lançaram o Dragon Ninjas, e aprimoram-o até hoje. 


Cheio de dívidas e problemas com investidores, Daniel teve de tomar uma atitude: Decidiu manter uma pessoa a frente dos jogos Vostu, para administrar os servidores e alimentar os jogos na medida em que pudera. Sua intenção era permitir que os três carros chefes (Mini fazenda, Café Mania e MegaCity) da Vostu permanecessem no ar gerando lucros para que  repor todas as perdas que teve. Manteve por quase um ano, quando Junho percebera que já não era mais rentável e que teria de pagar servidores por lucros que não viriam mais. Foi quando sem dó, num gesto frio calculou corretamente os passos: Destruiu as formas de comunicação com a Vostu (suporte, site, blog, fanpage, tudo que podia) e depois de alguns dias anunciou no MegaCity e no Café Mania (jogos menos expressivos em relação a Mini Fazenda, por exemplo) que tudo se acabaria em 15 dias. A Mini Fazenda, tradicionalmente conhecida por ter fãs apaixonados, resolveu não publicar o anúncio. Sua intenção era evitar a comoção por partes dos fãs. 

Mas Daniel já sabia que não conseguiria manter os jogos por 15 dias, apenas estimou. A esta altura tudo já vinha sendo realizado: Desligamento de servidores, entrega de licenças e por fim, o desligamento dos datacenters. Já era, tudo estava acabado e estava na memória. Sem chances de retorno, aos poucos a memória de cada um dos jogos vai se extinguindo e sumindo da web. Em uma questão de tempo, ninguém mais saberá o que é Mini fazenda, o que foi o Café Mania e muito menos, como eram as MegaCidades do MegaCity. 

Um final melancólico e triste para aquela, que foi um dia a maior empresa de games sociais da América Latina. 

Observação: Entramos em contato com Daniel Kafie (ex presidente da Vostu), e o mesmo manisfestou interesse em responder alguns questionamentos apontados, mas até o fechamento desta postagem ele não enviou seus autos.